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Deitado ao sol do dia que me resta, sinto o bulir da aragem sobre a pele. Os nervos colhem o frescor que adere, como o voar de pássaro em festa. O tempo são meus olhos descansados, recluso à sombra que por eles passam. Dentro de mim se fazem, se entrelaçam, sombras azuis de um céu enfeitiçado. Nada concebo, nada se desfaz, certeza alguma meu juízo traz. Estou entregue ao que meu corpo sente, ao que minha alma intui, supõe, pressente. A vida é este presente inacabado, sobre o silêncio da manhã deixado.
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In: CARVALHO, Nelson. Sonetos – volume 3. Brasília: Coelhos da Selva Editores, 2021.