Soneto LXXVII – Nelson Carvalho

.

Deitado ao sol do dia que me resta,
sinto o bulir da aragem sobre a pele.
Os nervos colhem o frescor que adere,
como o voar de pássaro em festa.

O tempo são meus olhos descansados,
recluso à sombra que por eles passam.
Dentro de mim se fazem, se entrelaçam,
sombras azuis de um céu enfeitiçado.

Nada concebo, nada se desfaz,
certeza alguma meu juízo traz.
Estou entregue ao que meu corpo sente,

ao que minha alma intui, supõe, pressente.
A vida é este presente inacabado,
sobre o silêncio da manhã deixado.

.

.

In: CARVALHO, Nelson. Sonetos – volume 3. Brasília: Coelhos da Selva Editores, 2021.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s