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I
verso silencioso
……..silenciado
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bicho acuado no beco
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cego de tanto olhar
mudo de tanto ouvir
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sentinela atrofiada da história
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II
pela janela
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metrópole órfã de estrelas
(esses fantasmas
cicatrizes da origem de tudo)
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metrópole engolidora
de gentes e gestos
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metrópole de ruídos
silêncios interrompidos
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III
luz dourada
no escuro
da madrugada
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gargalha nas fuças do verso
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IV
entre a gipsita
e o cassetete
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o verso escrito errado
em linhas certas
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V
entre tarefas e tarifas
afazeres berros e murros
agendas prazeres e prazos
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presente passado e futuro
alinhavam tempo e espaço
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o verso escalpelado
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VI
arsenal de possibilidades
tomado de assalto
à luz do dia
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o presente
perde espaço
pro passado
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(que não se passa a limpo)
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VII
favo e favor
o verso traduz trabalho
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flavor de existência diário
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e o cu com isto?
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VIII
a caderneta
o lápis
o lapso
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uma gargalhada
uma golada de café amargo
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que a vida já é doce
e levar-se a sério já é demais
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