ao companheiro Carlos Marighella
(in memoriam)
I
Era noite
quando o corpo tombou
em silêncio
na escuridão perfurada.
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Sem aparente eco.
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II
Os jornais
Os carcereiros
Os astrólogos
.
Noticiaram.
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Manchetes duram apenas um dia
(exceção feita a hebdomadários e afins)
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III
Ele desapareceu
sumiu
foi preso
alçou voo
morreu e ressuscitou
uma série de vezes
.
Até que tombou de fato
na alameda Casa Branca.
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IV
O corpo tombou na noite
Irreversível.
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Afoitos
gorilas leviatãs e cordeiros
(todos de verde)
festejaram.
.
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V
Incrédulos e estupefatos
seus companheiros
receberam a notícia.
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Olhos furtivos
sem recuarem.
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Como continuar cantando o amor
exaltando a vida
recitando lutas
tremulando poemas?
.
Miravam-se sem resposta.
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VI
Decididamente
não tiveram tempo
de ter medo.
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Era o que haviam aprendido.
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Jonathan Constantino
São Paulo, 4 de novembro de 2009