dos diálogos com Carlos Drummond de Andrade
e com Alípio Freire
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Havemos de amanhecer, camaradas
mesmo que a noite
de aparência interminável
Persista.
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Embora lamacento e movediço
é este o caminho que temos.
Embora incertos e inseguros
nossos passos são o que temos de mais concreto.
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Nossas vistas
já acostumadas com o breu
não reconhecem flores buracos mariposas.
Para evitar maiores quedas
é preciso tatear o caminho
……………..seus contornos
……………………..entornos
……………………..entraves.
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Abatidos carregamos cicatrizes
hematomas e um coração ferido.
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Em nossa pele as marcas
do muro que se desfez
do fuzil tirado de nossas mãos
(com o qual nos balearam)
das frustradas tentativas de trincheira
da estrela tão luminosa que se apagou.
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A noite nos surpreendeu.
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Mas não há por que desespero
ou confiança cega
− a manhã já mostra seus sinais.
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Havemos de receber no rosto
os primeiros raios de sol a iluminar nossas faces
− havemos de enfrentar o dia
e o risco do entardecer.
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Quando o crepúsculo se elevar no horizonte
não entremos em pânico
nem definhemos saudosos de alvoradas do passado.
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No romper da nova noite
talvez já não creiamos em auroras.
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Cada madrugada traz seus riscos
e a possibilidade de novas manhãs
− até que o universo anoiteça definitivamente.
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Nesta madrugada de densa escuridão
não podemos resignar nossos passos
amputar o caminho já feito
.
É imprescindível seguir.
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Jonathan Constantino
13 de dezembro de 2009
[…] Confira a publicação original em: https://versosnalinhadotempo.com/2010/08/20/aurora/ […]
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<3
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Pode parecer loucura minha, mas as vezes acho tão desnecessária essa preocupação pelo amanhecer, entardecer, anoitecer. É inevitável que se chegue esse momento pra quem fica. Nos preocupamos com o certo e nos esquecemos do que realmente interessa, o caminho. Quando o crepúsculo der seus primeiros sinais, serão sinais de existência e não de vida e então talvez nos arrependamos do caminho trilhado. É inevitável que se chegue, sofrer, sofrer tanto, é opcional.
Você dialogou com drummnond, mas o que veio em meus pensamentos mesmo, foi Bandeira.
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Pois é, meu querido amigo. Flagelar-se de sofrimento é uma opção. E uma opção que não muda o que já se trilhou. E o caminho é o que se fez e quando a aurora (ou o crepúsculo) vier (e se vier), que venha com aquilo que tiver em sua bagagem:
“Procurem por toda à parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.” (M. Bandeira)
Um abraço enorme
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Em casa breu, nosso coração recebe uma camada de uma espécie de verniz e vamos nos endurecendo com o tempo. Porém é preciso acreditar no hoje e continuar… senão só nos resta viver uma vida vazia e sem graça. Esta poesia calhou pra um dia de sol como hj!bjusss
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É isso, sem tirar nem pôr…
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Jo, poema lindo!
Reflete muito nossa vida militante. Não poderia ter dito em melhores palavras.
Continue compartilhando suas criações…
Um beijo!
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Nossas vistas
já acostumadas com o breu
não reconhecem mariposas flores buracos.
Para evitar maiores quedas
é preciso tatear o caminho
…………………..seus contornos
…………………………..entornos
…………………………..entraves.
Amo você!
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Muitooo lindo mesmoo!
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